Pedro Sánchez não se demite. "Mostremos como se defende a democracia"

por Joana Raposo Santos - RTP
"Durante demasiado tempo deixámos que a lama contaminasse a nossa vida pública", afirmou Pedro Sánchez Jon Nazca - Reuters

O presidente do Governo de Espanha descartou, esta segunda-feira, demitir-se do cargo. Pedro Sánchez afirma que, embora a "campanha para o desacreditar não pare", tanto ele como a sua mulher saberão lidar com isso. Durante os últimos cinco dias, o líder espanhol esteve ausente da vida pública para refletir sobre a continuidade no cargo.

“Na passada quarta-feira escrevi uma carta dirigida aos cidadãos e perguntei-me se valia a pena. Tenho uma resposta clara: se permitirmos ataques a pessoas inocentes, então não vale a pena; se permitirmos que as mentiras substituam o debate, então não vale a pena”, começou por dizer Sánchez.

“Precisava de parar e refletir”, reconheceu. “Reconheci perante aqueles que procuram quebrar-me que me custa viver estas situações. Agi com uma convicção clara: não se trata de uma questão ideológica”.
O presidente do Governo espanhol disse ter recebido, durante o fim de semana, mensagens de apoio tanto no Comité Federal do seu partido, o PSOE, como de militantes nas ruas e em atos eleitorais na Catalunha. Graças a essa mobilização, decidiu continuar no cargo.

“Exigir uma resistência incondicional é colocar o foco nas vítimas e não nos agressores. Esta campanha de difamação não vai parar, mas nós podemos enfrentá-la. O importante é que queremos agradecer as manifestações de solidariedade recebidas de todos os lados. Graças a esta mobilização, decidi manter-me à frente da Presidência”.
"Males que nos afetam fazem parte de movimento global"
O presidente do Governo espanhol disse ainda assumir a decisão de continuar com “ainda mais força”. “O que está em causa não é o destino de um determinado líder. Trata-se de decidir que tipo de sociedade queremos ser. O nosso país precisa desta reflexão. Durante demasiado tempo deixámos que a lama contaminasse a nossa vida pública”, acrescentou.

Pedro Sánchez aproveitou para apelar à sociedade espanhola para que, “uma vez mais, dê o exemplo”. “Os males que nos afetam fazem parte de um movimento global. Mostremos ao mundo como se defende a democracia”, frisou.

Na quarta-feira, o líder do Governo publicou uma carta aos espanhóis na qual anunciava que estava a considerar renunciar devido aos ataques que disse serem sem precedentes da direita e da extrema-direita contra a mulher, Begoña Gómez.
Ana Romeu - correspondente da RTP em Madrid

Em causa está a abertura de um inquérito preliminar por parte de um tribunal de Madrid contra Begoña Gomez, por suspeitas de alegado tráfico de influências e corrupção. A decisão surgiu após uma queixa de uma organização conotada com a extrema-direita, baseada em artigos publicados na Internet e em meios de comunicação digitais.

No dia seguinte, o Ministério Público pediu o arquivamento da queixa por considerar não existirem indícios de delito que justifiquem a abertura de um procedimento penal.
Decisão "corajosa"
Salvador Illa, líder do Partido dos Socialistas da Catalunha e candidato à Generalitat (governo catalão) nas eleições antecipadas do próximo mês, veio já aplaudir a decisão “corajosa” de Pedro Sánchez.

“Estas são as melhores notícias para a Catalunha. Uma decisão corajosa para recuperar a dignidade da política e um compromisso para travar aqueles que tentam atacar a nossa democracia. Vá em frente, presidente!”, escreveu na rede social X.

O porta-voz do PSOE (partido de Sánchez) no Congresso também celebrou a decisão. “Que grande notícias. O Pedro continua a demonstrar que a mentira não consegue vencer a verdade. Que o insulto não vence os argumentos. Que o ódio de alguns discursos não se impõe à coexistência”, escreveu.

“Aqueles que acreditam que o poder é deles não têm mais poder do que a vontade dos cidadãos. Hoje, a democracia vence. Hoje ganhámos a imensa maioria”, acrescentou.
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